Vander Loubet*
Em meio ao uso desenfreado que fazemos diariamente das redes sociais, é urgente discutir um tema que impacta diretamente a saúde mental, social e educacional de todos nós: os efeitos negativos dessas redes.
Estudos de instituições como a Mayo Clinic — instituição estadunidense que é uma das maiores do mundo na área de serviços médicos e pesquisas médico-hospitalares — mostram que quem utiliza redes sociais mais de três vezes ao dia tem risco elevado de desenvolver problemas psicológicos, como depressão, ansiedade e baixa autoestima. Esses problemas ocorrem especialmente entre adolescentes de 12 a 15 anos.
Pesquisas realizadas pela Universidade de Columbia, em Nova York, também confirmam que plataformas como Instagram e Facebook intensificam comparações sociais, contribuindo para transtornos alimentares e isolamento emocional.
Além disso, um estudo britânico de 2018 revela que o uso excessivo de redes está associado a prejuízos no sono, perda de memória e diminuição do desempenho acadêmico. A tendência às multitarefas digitais também está ligada à queda de foco, ansiedade social e redução da eficiência cognitiva.
Outro problema grave atribuído ao uso excessivo de redes sociais é o cyberbullying. Nos últimos anos, esse problema tem se intensificado. Já em 2021, a Agência Brasil divulgou que 1 em cada 10 adolescentes havia se sentido ameaçado, ofendido ou humilhado em redes sociais ou aplicativos — número que aumentou durante a pandemia, quando o uso dessas plataformas foi intensificado.
Um estudo pioneiro realizado por pesquisadores da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que, em 2024, 13,2% dos estudantes de 13 a 17 anos foram vítimas de cyberbullying. Esse tipo de violência virtual tem consequências graves, como queda na autoestima, ideação suicida e isolamento social.
As plataformas também têm sido apontadas como responsáveis pelo fenômeno do phubbing — palavra em inglês, sem tradução direta, definida como a prática de ignorar ou não prestar atenção em alguém, mesmo que seja da família, por estar focado no celular ou em outro dispositivo eletrônico.
É importante também chamar a atenção para o uso de filtros e edições de imagem, que criam padrões estéticos irreais. Estudo realizado pela marca de produtos de higiene pessoal Dove aponta que, no ano de 2020, 90% dos jovens usavam algum tipo de filtro em aplicativos e redes sociais para alterar sua aparência. Ora, o uso de filtros é conhecido como uma das causas perversas do desenvolvimento da insatisfação com a própria aparência, resultando em baixa autoestima e até transtornos de dismorfia corporal.
Além disso, a chamada “economia da atenção” nas plataformas reforça comportamentos impulsivos com recompensas intermitentes (curtidas, compartilhamentos), criando dependência psicológica.
Há que se ressaltar que as redes sociais se tornaram canais para a disseminação rápida de notícias falsas, ações manipuladoras e discursos de ódio. Um relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) mostra que essas plataformas operam com algoritmos que potencializam a polarização e a manipulação desinformativa, prejudicando o debate democrático e comprometendo decisões eleitorais conscientes.
Diante desse cenário, é urgente que o poder público promova ações imediatas, como: criação de programas de educação midiática nas escolas, formando cidadãos críticos e conscientes; campanhas de conscientização sobre os limites de tempo e o cultivo de hábitos digitais saudáveis; regulação responsável, com mecanismos sólidos de combate à desinformação e à manipulação digital; bem como apoio psicológico especializado nas redes e parceria com empresas para oferecer recursos de prevenção e canais de denúncia.
Todos devemos trabalhar para que as redes sociais se tornem espaços mais seguros, saudáveis e promotores de bem-estar. É possível desfrutar dos benefícios dessa tecnologia sem negligenciar nossos valores, nossa saúde mental e o convívio em sociedade.
*Deputado federal (PT-MS)