Vander Loubet*
O tema que me traz a este espaço hoje é de extrema relevância para o presente e para o futuro de nossa sociedade: o poder cibernético. Vivemos em uma era em que a tecnologia não apenas permeia, mas define as relações econômicas, sociais e políticas, transformando profundamente o modo como interagimos, produzimos e governamos.
O poder cibernético refere-se à capacidade de uma nação, organização ou indivíduo de influenciar, controlar ou proteger informações, sistemas e infraestruturas críticas por meio do ciberespaço. Esse poder, porém, traz consigo um paradoxo: enquanto oferece possibilidades infinitas de progresso, inovação e democratização do conhecimento, também apresenta desafios inéditos, como a segurança digital, a privacidade e a soberania nacional.
Sabemos que a conectividade global é uma das grandes conquistas da nossa época. O Brasil, por exemplo, é uma potência no uso da internet, com mais de 165 milhões de usuários conectados, sendo grande parte jovens, trabalhadores e empreendedores que utilizam as redes para aprendizado, negócios e interação social. Contudo, como qualquer forma de poder, o poder cibernético precisa ser regulado, protegido e orientado para o bem coletivo.
O Governo Federal tem avançado no fortalecimento das bases da nossa segurança cibernética. Desde a criação da Estratégia Nacional de Segurança Cibernética, até o aprimoramento de legislações como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), nosso país tem se posicionado como um dos líderes no esforço global para garantir que o poder cibernético seja utilizado de forma ética, inclusiva e transparente.
Mas ainda há muito a ser feito. O Brasil, enquanto democracia emergente e potência regional, precisa consolidar políticas públicas que contemplem três pilares fundamentais:
O primeiro é, sem dúvida, a segurança digital como prioridade nacional. Devemos investir fortemente na proteção de nossas infraestruturas críticas — sistemas financeiros, redes de telecomunicação, transporte e energia. Ataques cibernéticos podem não apenas comprometer serviços essenciais, mas ameaçar a própria soberania nacional. O ciberespaço, portanto, deve ser tratado como uma nova fronteira de defesa.
O segundo é a inclusão digital como ferramenta de desenvolvimento. O poder cibernético precisa ser acessível a todos. Ampliar o acesso à internet em regiões remotas, como em comunidades indígenas e quilombolas, é uma questão de justiça social. Não se trata apenas de conectar pessoas, mas de garantir que elas possam usufruir de serviços públicos, oportunidades educacionais e novas formas de empreendedorismo.
O terceiro e último pilar é a ética na regulação da era cibernética. A tecnologia não pode ser um fim em si mesma, mas um instrumento para melhorar a qualidade de vida. Isso requer um debate amplo e inclusivo sobre os limites éticos do uso da inteligência artificial, da coleta de dados pessoais e do impacto das plataformas digitais na nossa democracia.
Não podemos ignorar o impacto das guerras cibernéticas e da desinformação nas democracias do mundo. Vimos países inteiros à beira do caos devido ao uso maligno de fake news, manipulação de algoritmos e invasões de sistemas eleitorais. Precisamos reforçar o papel do Estado na fiscalização e proteção contra essas práticas, mas sem jamais comprometer a liberdade de expressão e o pluralismo que fundamentam nossa sociedade.
Aqui, no Brasil, uma das tarefas mais urgentes é certamente fortalecer a educação cibernética. É imperativo que nossas escolas, faculdades e centros de pesquisa preparem os cidadãos para enfrentar os desafios desse novo mundo. Afinal, a cidadania na era digital exige não apenas o acesso à tecnologia, mas o entendimento crítico de seu funcionamento e impacto.
Como representantes do povo, cabe a nós, congressistas, assegurar que o poder cibernético seja usado para fortalecer a soberania nacional, proteger os direitos individuais e promover o desenvolvimento sustentável. O Brasil tem todas as condições para liderar este debate global com seriedade e inovação. Mas, para isso, precisamos trabalhar juntos, ouvindo especialistas, promovendo diálogos com a sociedade civil e garantindo investimentos robustos em tecnologia e segurança.
Afinal, o poder cibernético é, acima de tudo, um reflexo do poder humano de criar, de transformar e de construir um futuro melhor. É nossa responsabilidade assegurar que esse futuro seja guiado pelos valores da ética, da justiça e da inclusão.
*Deputado federal (PT-MS)