As redes sociais e os problemas decorrentes do seu uso indiscriminado

Vander Loubet*

Vivemos em tempos marcados por transformações sociais rápidas e profundas, impulsionadas principalmente pelos avanços tecnológicos. Pouca coisa ilustra melhor essas mudanças do que o comportamento dos usuários em três dos principais aplicativos da atualidade: Facebook, Instagram e TikTok.

Essas redes sociais foram criadas para facilitar o contato entre as pessoas, oferecendo notícias, diversão e relacionamento. Contudo, na prática, acabaram formando gerações de usuários com visões de mundo, valores e formas de se expressar bastante distintas. E, paradoxalmente, tendem a isolar cada vez mais as pessoas, em vez de aproximá-las.

Comecemos pelo Facebook, a mais antiga delas, que sempre foi utilizado como meio de manter contato com conhecidos e grupos de interesse em comum. Porém, o que a plataforma promove, na verdade, é a construção de bolhas informacionais, ao filtrar conteúdos com base na preferência do usuário. Isso reduz a exposição a informações neutras ou divergentes e resulta em segregação informacional, dificultando o acesso a pontos de vista diferentes e reforçando posições polarizadas.

Por esse motivo, o Facebook é frequentemente apontado como uma das redes mais tóxicas, em razão do alto volume de conteúdos negativos e de desinformação.

O Instagram, por sua vez, surgiu como um aplicativo de fotografias, mas coincidiu com o momento em que a curadoria da imagem pessoal passou a ser prioridade. A plataforma incentiva a busca pela perfeição visual, com o uso de filtros e a exibição de uma vida idealizada. Voltado sobretudo a adolescentes e jovens adultos, impõe um padrão: tudo precisa parecer perfeito.

Daí decorrem diversos problemas. A busca incessante pela perfeição, algo inalcançável, gera ansiedade, depressão, baixa autoestima e sensação de solidão. Pesquisadores do comportamento humano apontam o Instagram como a rede que mais exerce pressão social e afeta a saúde emocional, principalmente devido às comparações com vidas idealizadas.

Por fim, temos o TikTok, preferido da geração que ingressa na adolescência, que valoriza o “agora”, mesmo que imperfeito, desde que espontâneo, rápido e autêntico.

Apesar da aparência inofensiva de seus vídeos curtos, o TikTok traz desafios significativos. Ao estimular o uso contínuo e dificultar o controle do tempo gasto, promove dependência e vício. Isso pode levar ao isolamento, na medida em que relações virtuais substituem interações reais. Além disso, há preocupações sobre a manipulação da opinião pública, já que os algoritmos da plataforma podem influenciar comportamentos e percepções de maneira negativa.

Em todas essas redes, observa-se o mesmo fenômeno: para conquistar “likes”, é preciso enquadrar-se no perfil esperado pelo aplicativo; para ser aceito, encontrar sua bolha virtual; para manter-se dentro dela, criticar e combater quem pensa diferente, sem nunca ouvir opiniões e argumentos contrários.

Nesse ambiente digital, muitos pregam não existir lei — nem a necessidade dela. Assim, escrevem o que querem “em nome da liberdade de expressão”. É oportuno lembrar Romanos 4,15:

“Porquanto a lei produz a ira, e onde não existe a lei, não há transgressão.”

É forçoso admitir que muitos não se adaptam à existência da lei, pois ela implica o dever de cumpri-la. Sem lei, cada um poderia fazer o que bem entendesse, livre de investigações, inquéritos, processos e sentenças. E em nome de quê? Da liberdade de expressão. Curiosamente, quando lhes convém, recorrem à própria lei e à Constituição, que antes negavam.

O Congresso Nacional precisa aprofundar o debate sobre o tema e reafirmar que as leis existem para garantir a ordem, a justiça e o bem-estar social — sempre dentro da democracia e do Estado de Direito.

Os problemas são sérios. As redes sociais não apenas acentuam a distância entre gerações, mas também ampliam os abismos entre pessoas com opiniões divergentes.

O impacto dessas plataformas sobre o comportamento humano, em seus aspectos individuais, coletivos e geracionais, já é objeto de estudo em todo o mundo — e os diagnósticos, até o momento, são desanimadores.

Diante disso, emerge a necessidade de buscar soluções também no campo do Direito. Nossas leis precisam acompanhar a evolução da sociedade, responder às demandas atuais e oferecer mecanismos que promovam a pacificação e o bem-estar coletivo.

É urgente incentivar o convívio social saudável, verdadeiro e presencial. É preciso ensinar que o mundo real é cheio de imperfeições e que a vida se desenrola em um ritmo muito diferente do mundo virtual.

Nossas crianças crescem acreditando no mundo perfeito que veem nas telas, imaginando que amizades se constroem com um clique. Quanto mais demorarmos para agir e buscar soluções, mais grave será a situação num futuro próximo.

*Deputado federal (PT-MS)

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