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Escoamento pelo Pacífico aumentará competitividade de MS

O Corredor Bioceânico, trajeto que liga os oceanos Atlântico e Pacífico, possibilitará a redução de até 8 mil quilômetros de distância no trajeto das exportações de produtos sul-mato-grossenses para o mercado asiático, e também de importações. Com extensão de 2.396 km, a rota permite a conexão viária do Centro-Oeste brasileiro aos portos de Antofagasta e Iquique (Chile), passando pelo Paraguai e Argentina.

“A localização geográfica dos portos do Chile garante a redução do tempo de viagem fazendo com que os produtos exportados tenham um custo de deslocamento menor, tornando o mercado brasileiro mais competitivo”, explica o professor e pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Francisco Bayardo.

Mesmo com a pandemia, a China permanece como principal destino das exportações de Mato Grosso do Sul, com 44,46% do total da pauta no mês de agosto, de acordo com dados divulgados pela Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro).

“Se nós lembrarmos que a China compra muita carne, por onde sai a nossa carne hoje? Pelo Sudeste, pelo Porto de Santos (SP), um trajeto distante. Se a gente pensar que esse produto poderá sair pelo Pacífico, há de se considerar um encurtamento do trajeto que pode chegar até 8 mil quilômetros, dependendo do país, com redução de 12 a 17 dias do percurso total de uma viagem”, avalia o pesquisador.

Francisco Bayardo desenvolve estudos na área de Logística dentro do projeto de pesquisa e extensão da UFMS sobre o Corredor Bioceânico, financiado por emenda parlamentar do deputado federal Vander Loubet (PT-MS). O professor destaca que Mato Grosso do Sul é o quinto maior produtor de grãos do País, com 19,9 milhões de toneladas de soja e milho na safra de 2020.

“Os números mostram um crescimento nos últimos 10 anos que tem sido importante. Isso é bastante significativo. Nós não absorvemos a produção desses produtos aqui e precisamos colocar esses produtos para outros lugares. A rota poderá contribuir para o escoamento desses grãos para países que já exportamos e para outros mercados potenciais na Ásia, Oceania e Costa Oeste dos Estados Unidos”, afirma.

Investimentos – Em Porto Murtinho, será construída uma das principais obras do Corredor Bioceânico: a ponte sobre o Rio Paraguai. Com extensão de 680 metros, a ponte ligará os municípios de Porto Murtinho e Carmelo Peralta (Paraguai). O projeto está sendo realizado pelo Consórcio Prointec, responsável pelo estudo técnico, econômico e ambiental.

Antes mesmo da implantação da rota internacional, a cidade já passa por transformações. Atualmente, são dois portos em operação em Porto Murtinho: o Terminal da APPM e o Terminal Portuário da FV Cereais, o último inaugurado no início deste ano.

“Temos esses dois portos, um com capacidade para 18 mil toneladas em seu armazém, e o outro com capacidade de 30 mil toneladas, prevendo-se para o ano que vem dobrar essa capacidade de armazenagem passando para 60 mil toneladas”, relata o pesquisador da UFMS.

Com os portos, a cidade tem uma grande movimentação de cargas, recebendo mercadorias de um raio de até 400 km como Maracaju, Bonito, Antônio João, Ponta Porã, Bela Vista, Caracol. São produtos como milho e soja que são exportados para a Argentina.

Outro investimento privado considerado relevante é a construção do Estacionamento de Triagem da distribuidora Mécari (ETM). “Vislumbrando o desenvolvimento na área de exportação e importação com melhor aparato logístico, esse grupo projetou um espaço para atender até 400 caminhões bitrens, de 26 metros, com uma estrutura de restaurante bastante ampla e parte de apoio ao motorista. Esse espaço já está funcionando para atender os caminhões que ficam ali até descarregarem nos portos, evitando um desconforto, um gargalo no trânsito da cidade, em razão da movimentação excessiva de caminhões”, explica Francisco Bayardo.

Em uma segunda fase, o estacionamento terá um posto de combustíveis, estrutura hoteleira, mini shopping e parte de manutenção dos veículos, como borracharia, tornando-se um espaço estratégico para a estrutura logística da região.

Integração e diversificação – De acordo com o pesquisador Francisco Bayardo, a expectativa é que o Corredor Bioceânico possa favorecer a intermodalidade com o uso da estrutura rodoviária, fluvial e ferroviária. Com uma melhor estrutura rodoviária, os portos de Porto Murtinho, por exemplo, poderão receber outros tipos de produtos.

“A ideia é que esses portos sejam estruturados para receber cargas vivas, fertilizantes, sal, frios, inclusive, o estacionamento de triagem da Mécari terá um espaço para caminhões com produtos frios, fertilizantes e um setor para carga viva e tomadas para caminhões frigorificados. Estão pensando a frente, em outros produtos que serão importantes para circularem neste trajeto”, afirma.

Em relação à ferrovia, há expectativas de investimentos que possam favorecer a integração com o Corredor Bioceânico. “Nós temos um ramal importante ligando Corumbá com Campo Grande, outra malha ligando Campo Grande a Três Lagoas, e Campo Grande ao sul do Estado também. Temos a possibilidade de utilização desses ramais distribuindo uma quantidade maior de carga, que já foram utilizados de maneira relevante no passado e daqui para frente, com os investimentos, com os estudos, poderão ser utilizados de maneira mais abrangente”.

Em Campo Grande, a conclusão do Terminal Intermodal de Cargas ou Porto Seco também poderá contribuir para a integração logística entre os diferentes modais, favorecendo as exportações e importações. O terminal tem capacidade para movimentar até 2,2 milhões de toneladas de produtos por ano.

“Será possível armazenar e coordenar a intermodalidade dos produtos, fica em uma área próxima ao aeroporto, com uma malha férrea que atende, e com uma estrutura que possa melhor assistir os profissionais que trabalham com as cargas sejam rodoviárias, ferroviárias e, quem sabe, até aeroviárias. Isso é importante para o desenvolvimento, como aporte e como estrutura, para que no futuro a gente tenha outras empresas se instalando nessa região e que possam desenvolver trabalhos que visem a utilização da Rota Bioceânica”.

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