Vander Loubet – Deputado Federal (PT-MS)
Agora está consumado: o prefeito Nelson Trad Filho (PMDB) oficializou esta semana que a tarifa dos ônibus urbanos de Campo Grande será a segunda mais cara do Brasil. Só “perdemos” para São Paulo, a maior cidade da América Latina, que com 12 milhões de habitantes, tem uma tarifa de R$ 3,00. O valor definido pela gestão de Nelsinho é o mesmo pago em Porto Alegre. A diferença: a capital gaúcha, além de possuir o dobro de moradores (1,5 milhão de habitantes) que Campo Grande, conta com um dos transportes coletivos mais modernos e mais bem avaliados do País em termos de qualidade, segurança e comodidade.
A passagem do transporte coletivo de Campo Grande passou de R$ 2,50 para R$ 2,70, embora os estudos da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) tenham indicado que o valor deveria ser de R$ 2,68. Segundo o diretor da Agência Municipal de Transporte e Trânsito (Agetran), Rudel Trindade, o valor foi arredondado para “facilitar” o troco.
A decisão de arredondar o preço de R$ 2,68 para R$ 2,70 não implica somente em uma facilitação de troco. É o reflexo de uma forma de fazer política, de tomar decisões sem que o interesse da maioria tenha importância. Se fosse mesmo para arredondar, por que não para menos? De R$ 2,68 para R$ 2,65 ou para R$ 2,60, por exemplo. Isso não só facilitaria o troco, como pretendem, mas também beneficiaria os usuários e até os empresários que pagam vale transporte aos seus funcionários.
Numa conta simples, a decisão “arredondadora” da Prefeitura fará com que os donos das empresas de ônibus tenham seus ganhos aumentados em cerca de R$ 1,7 milhão em um ano, pois R$ 0,02 x 230 mil (média de passageiros/dia transportados) = R$ 4.600,00/dia. Esse é o valor que poderia ficar com os passageiros para reforçar seus orçamentos familiares. Dois centavos podem parecer pouco para os afortunados, mas para as pessoas mais pobres é o pão, é o leite da casa.
Ao caminhar pela nossa Capital e conversar com as pessoas, eleitores ou não, o que tenho ouvido são reclamações de pequenos empresários, trabalhadores, donas de casa, estudantes, que consideram que as coisas em Campo Grande não apontam para a forma de governo que a cidade onde vivemos e que tanto admiramos deveria ter. Nossa Cidade Morena merece de seus dirigentes uma forma mais moderna e participativa de ser administrada.
É difícil entender como temos o segundo transporte coletivo mais caro do Brasil se esse serviço possui tantas deficiências, como falta de cobertura em pontos de ônibus; desrespeito aos idosos, gestantes e deficientes e superlotação de veículos. Além disso, não há comparação entre a realidade física de Campo Grande e os longos e lentos percursos de cidades como São Paulo e Porto Alegre, cujas complexidades urbanas são bem mais desafiadoras que as da nossa Capital. Sem falar na velha explicação de que o transporte coletivo aqui é mais caro em função das gratuidades. Esse argumento não se sustenta na totalidade, pois em outras cidades há benefícios menos restritivos que os daqui e nem por isso as tarifas são tão caras.
O desfecho final do reajuste mostrou-se ainda mais emblemático. De portas fechadas, foi tomada uma decisão que deveria ser pública, transparente e participativa, tendo em vista a dimensão e o impacto que o reajuste da tarifa provoca no custo de sobrevivência da esmagadora maioria da população e na própria dinâmica da economia local. No final, são dois centavos muito caros e que fazem toda a diferença.