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Idealismo versus política real nas eleições em MS

Ido Michels*

“O idealismo é a virtude da inexperiência.” (Emanuel Wertheimer)

Em artigo recente, intitulado “A eleição no MS aberta”, sob a lavra de Vladimir Ferreira, presidente estadual do PT, há a defesa da tese de lançamento de candidatura própria do Partido dos Trabalhadores ao Governo do Estado, contrariando percepções contrárias a essa posição, notadamente do ex-governador Zeca do PT e, especialmente, do ex-presidente Lula, que apontam que o mais importante é elegermos o presidente da República em 2022, bem como uma bancada de deputadas(os) estaduais e federais e senadoras(es).

Seguindo a metáfora futebolística por Vladimir mencionada – de que “quem não disputa campeonato, não adquiri torcida” – podemos estendê-la ao afirmar que disputar campeonatos com jogadores e equipes não tão bem estruturadas, preparadas ou competitivas aponta o risco de rebaixamento a uma segunda ou terceira divisão no cenário estadual dos partidos políticos.

Não se faz necessário recorrer a Maquiavel para constatar uma obviedade: política é, antes de tudo, análise e ação sobre a realidade concreta e não a projeção de idealizações (o que é muito diferente de ideias) de qualquer natureza. Aliás, no dizer de Maquiavel, a POLÍTICA CRISTÃ serve para seminários, templos e correlatos, enquanto que a POLÍTICA PAGÃ é a politica real e a que de fato fez e faz o mundo mudar.

Me parece de uma percepção luminar que o PT, depois de todos os ataques sofridos nos últimos anos, que redundaram no golpe contra a ex-presidente Dilma, bem como a prisão de Lula, viveu e vive um momento de recomposição de forças, sobretudo com a alentadora inocentação por parte do STF de Lula e sua consequente pré-candidatura presidencial, fazendo do ex-presidente o maior e mais importante player do cenário eleitoral para 2022, juntamente com o genocida Jair Bolsonaro.

Nosso partido e a nossa principal liderança sofreram nos últimos anos o maior ataque por parte de segmentos do Ministério Público e do Judiciário nacional, em conluio com a grande mídia, algo nunca visto na história do País. Sendo assim, somos verdadeiros “heróis da resistência”. Saber e entender isso é fundamental para que não tenhamos leituras idealistas e pouco pragmáticas para uma conjuntura da qual, por toda a nossa luta e obstinação do ex-presidente Lula, estamos saindo, mas ainda sem o acúmulo das forças necessárias para certos enfrentamos, como deseja nosso presidente estadual.

Acreditar que por jogarmos bem e ganharmos os “campeonatos” de 1998 e 2002, há duas décadas pretéritas, não nos faz portadores necessariamente de forças políticas nesse momento para enfrentar as forças que aí estão e com quem, por óbvio, temos divergências.

A propósito, sobre divergências, está claro que temos diferenças diversas com os governos que nos antecederam e sucederam, bem como com o atual. Também é claro que nosso legado no período no qual governamos o Mato Grosso do Sul (1999-2006) são marcantes e históricos. Porém, esse legado não parece ser suficiente para que tenhamos um projeto e um candidato com forças para garantir um bom desempenho eleitoral dentro da atual conjuntura em MS.

Ao meu juízo, são por leituras superficiais ou mesmo pífias, tais como a expressa por nosso presidente estadual nesse caso, que tivemos desempenhos eleitorais medíocres em nosso estado, inclusive na eleição do ano passado para vereadores e prefeitos. Isso em boa medida se deve também porque o PT estadual, lamentavelmente, não conseguiu recuperar a capacidade, desejo e organicidade internas de debater avaliações e posicionamentos.

O mais acertado, talvez, seja diagnosticar com profundidade o passado recente, para aí sim defender e estruturar as ações futuras. Nos falta fazer isso urgentemente, senão ficaremos presos a achismos e mantras (palavras de ordem), que pouco contribuem para uma análise real da política concreta.

Para quem acredita em Deus, no exercício de fé e em pregações, o ideal é busca-los nos templos ou igrejas – reais ou virtuais – pois partidos políticos necessitam de reflexões e de ações pautadas no mundo real e concreto e não em um mundo idealizado.

*Doutor pela USP, professor titular da UFMS e assessor parlamentar na Câmara dos Deputados

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