O Governo Federal vai investir mais R$ 100 milhões para ampliar as vagas na educação infantil em Campo Grande. O recurso será repassado por meio do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação) até que os cerca de 2 mil novos alunos das Escola Municipais de Educação Infantil (Emeis) do Jardim Inápolis e do Bairro São Conrado – entregues em 2024 e 2025 – sejam incluídas no Censo Escolar.
Os novos recursos do governo do presidente Lula permitirão ampliar ações voltadas à primeira infância, como a reforma de unidades, a aquisição de materiais didáticos e a abertura de novas vagas na Rede Municipal de Ensino. Segundo a Prefeitura da Capital, os recursos serão usados na conclusão de novas Emeis e na ampliação da oferta de vagas.
O anúncio dos investimentos ocorreu em 13 de outubro, durante reunião no Ministério da Educação (MEC) com membros da Coordenadoria-Geral de Educação Infantil MEC e a prefeita Adriane Lopes.
“Como se percebe, o governo do presidente Lula segue trabalhando por todos os municípios, independente das diferenças partidárias com os prefeitos. O foco da gestão petista é e sempre será as pessoas”, destacou o deputado federal Vander Loubet (PT-MS), principal articulados dos investimentos federais em Campo Grande e em todo o Mato Grosso do Sul. “Esse incremento nos recursos destinados à educação infantil mostra o nosso compromisso e o compromisso do presidente Lula com a formação das nossas crianças”, complementou.
Investimentos em boa hora
O investimento do Governo Federal em Campo Grande vem em boa hora. A realidade enfrentada diariamente por milhares de famílias e profissionais da rede pública de ensino é marcada por filas intermináveis por vagas, salas superlotadas e um sistema que beira o colapso. A promessa de uma educação inclusiva e de qualidade ainda não saiu do papel para muitos moradores da capital sul-mato-grossense.
A situação mais alarmante diz respeito exatamente à educação infantil. Segundo dados apresentados em audiência pública na Câmara Municipal, mais de 5.600 crianças aguardam por uma vaga em Centros de Educação Infantil (Ceinfs) da rede pública. O número representa não apenas uma estatística preocupante, mas uma violação concreta do direito à educação.
Para Carla Mota, mãe de duas crianças de 3 e 5 anos, a espera por uma vaga tornou-se um tormento diário. “Meu filho mais velho ficou um ano e meio fora da creche. Agora a mais nova está na fila há oito meses. Liguei várias vezes na Secretaria, mas dizem que não há previsão. Como a gente trabalha?”, desabafa.
Conselheiros tutelares também têm alertado para o impacto da falta de vagas no aumento da evasão escolar e no comprometimento da segurança das crianças. Muitas famílias precisam recorrer a terceiros para cuidar dos filhos, expondo-os a riscos.
Estrutura precária
Mesmo os que conseguem uma vaga enfrentam condições longe do ideal. Diversas unidades da Rede Municipal de Ensino (Reme) lidam com infraestrutura precária, salas mal ventiladas, falta de manutenção e ausência de equipamentos básicos.
Um professor da rede, que pediu à equipe do portal Semana On para não ser identificado, relata que na sua escola as salas superam a capacidade ideal e não há climatização adequada. “Tem sala com 35, 38 alunos. No calor de Campo Grande, é desumano. Crianças ficam suadas, irritadas, e é impossível manter a atenção”, pontua.
Ideb estagnado há quase uma década
Apesar dos investimentos anunciados em campanhas publicitárias, os números mostram um quadro preocupante. Campo Grande não cumpre a meta do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) há quase 10 anos. A cidade não consegue alcançar os índices mínimos estabelecidos pelo Ministério da Educação, especialmente nos anos finais do ensino fundamental.
A estagnação reflete problemas estruturais, como a falta de políticas pedagógicas continuadas e a desvalorização do magistério.
“A formação continuada é praticamente inexistente. A gente se vira como pode. Não tem plano de carreira efetivo, não há incentivos reais para melhorar a prática docente. A maioria dos professores está desmotivada”, afirma outra educadora da Reme, que também preferiu falar em off à equipe do portal Semana On.
Falta de planejamento e má gestão
A crise não é apenas pedagógica: é também administrativa. Há denúncias de atrasos em reformas escolares, que resultaram em suspensão de aulas e deslocamento de turmas para locais improvisados. Famílias relatam que sequer recebem respostas da Secretaria Municipal de Educação.
“Fiquei dois anos tentando uma vaga próxima de casa. Eles simplesmente não davam retorno. O Conselho Tutelar entrou com pedido de urgência, mas nem assim”, conta Michele Silva, moradora da região do bairro Coophavila II.
Texto: Portal Semana On Edição: Éder F. Yanaguita Foto: Ricardo Stuckert