Discurso do deputado federal Vander Loubet durante o Grande Expediente da Sessão Ordinária da Câmara dos Deputados de 24 de novembro de 2010:
Senhor presidente, senhoras e senhores parlamentares, o Brasil viveu este ano um dos processos eleitorais mais importantes da história republicana. Assim como ocorreu em 2002, ao eleger um operário, os brasileiros e brasileiras desta vez quebraram outro tabu, escolhendo uma mulher para comandar os destinos da Nação.
O acervo de nossas mais elevadas conquistas e de nossas lutas por justiça, paz e democracia é rico em protagonismos femininos. Ana Nery, Pagu, Olga Benário, Bertha Lutz, Maria Quitéria, Rachel de Queiroz, Ruth Cardoso, Irmã Dulce, Marta Guarani e Zilda Arns, entre tantas outras, em épocas e situações complexas, cada uma à frente de seu tempo, constituem exemplos da grandeza humana, da coragem e da capacidade da mulher brasileira.
No entanto, a eleição da primeira presidenta brasileira tem uma dimensão muito maior e mais profunda que a questão de gênero. A vitória de Dilma Roussef implica vigorosa resposta da sociedade contra o preconceito, sim, mas ao mesmo tempo aponta o querer de um povo que escolheu um caminho e pretende preservá-lo.
Não será para Dilma Rousseff uma tarefa simples, assim como não tem sido para Lula, cujo governo, considerado o melhor que o País já teve, vive há oito anos um cotidiano de diversos desafios.
As dificuldades fazem parte da vida de Lula, da trajetória do PT e também da nossa presidenta eleita. Para superá-las, a futura mandatária da Nação está preparada pelas experiências que acumulou lutando pela democracia e desempenhando missões complexas na vida pública.
Para dar continuidade ao processo de mudanças que Lula vem liderando, a presidenta Dilma vai governar com o suporte da legitimidade obtida nas urnas. Terá, além do amplo apoio nacional, a indispensável sustentação das forças aliadas que fazem parte do projeto maior, que não é mais um projeto só do PT ou da esquerda, mas um projeto que sintetiza as vontades de toda a Nação.
Senhor presidente, senhoras deputadas, senhores deputados, venho a esta tribuna para reiterar a minha confiança absoluta nas possibilidades do novo Brasil, um Brasil agora testado e desafiado por todas as mais desfavoráveis conjunturas locais e externas.
E o novo Brasil torna-se possível a cada avanço que experimenta graças à determinação de sua gente e aos compromissos de mudança de um governo que põe sobre a sociedade o olhar da transformação, da sensibilidade e da esperança, vencendo os medos e protegendo os sonhos.
E neste caminhar para a frente, impulsionado pela força do povo, é necessário registrar o papel do Partido dos Trabalhadores, que em suas três décadas de vida nunca deixou de acreditar no poder da liberdade e da democracia, nunca deixou de apostar na vocação transformadora dos brasileiros e das brasileiras.
O PT não nasceu por acaso. Ele foi gerado no ventre do inconformismo saudável de uma gente que teve a audácia de propor o novo, de defender a mudança estrutural, de encarar os preconceitos e de apontar as causas e soluções para combater a miséria e a concentração de renda.
São 30 anos de identificação com as legítimas causas da sociedade, um acúmulo que hoje explica o sucesso do governo Lula e nos renova a confiança no governo Dilma. O PT não está só nesse processo. O partido não defende um projeto isolado e tem a consciência do coletivo, da necessidade do diálogo e da mais ampla articulação com todas as forças dispostas a seguir avançando.
Com os acertos e os erros que cometeu, com as lições que aprendeu e continuará aprendendo, e com as reconhecidas vitórias políticas e eleitorais, o PT hoje, sem presunção, dispõe de autoridade para provar ser possível somar em diferentes os objetivos comuns, sem prejuízo da identidade ideológica de cada força.
Faço estas observações para expressar meu apoio ao programa de governo defendido por todos os partidos e organizações sociais que apoiaram a candidatura de Dilma Roussef. Os eleitores e eleitoras escolheram as melhores candidaturas, as melhores propostas, o que legitima, de antemão, o governo que se iniciará em janeiro próximo.
Tal legitimidade está refletida nos resultados nacionais e regionais que atestam a opção popular pelas candidaturas petistas ou que fazem parte do seu arco de alianças.
Nas eleições deste ano, além da presidenta Dilma, que teve 60,8% dos votos válidos e 12 milhões de votos a mais que o segundo colocado, o PT elegeu cinco governadores, a segunda maior bancada do Senado, com 14 senadores. São do PT as maiores bancadas da Câmara, com 88 deputados federais, e das assembléias legislativas, com 149 deputados.
Até em estados onde os candidatos do PT não se elegeram, o desempenho eleitoral do partido foi dos mais expressivos. É o caso de Mato Grosso do Sul, onde o ex-governador Zeca do PT, mesmo numa campanha extremamente desigual, em que enfrentou o atual governador e a máquina de governo, obteve 42,5% dos votos, ou quase a metade da preferência do eleitorado que foi às urnas.E o partido ainda elegeu um senador, dois deputados federais e quatro deputados estaduais.
Vale ressaltar que agora, após três eleições consecutivas, o PT continua com a maior bancada da Câmara e recupera igual posição na composição do Senado e das assembléias legislativas.
É preciso reconhecer a notável e decisiva contribuição dos partidos aliados para a vitória de Dilma e do nosso vice-presidente, Michel Temer, mas não se pode minimizar o tamanho e a qualidade da militância petista nesta histórica disputa. A força, o engajamento, a fé e o poder de mobilidade de nossos mais de 1 milhão 409 mil filiados foram, mais uma vez, admiráveis, fizeram a diferença. À militância cabe todo mérito da vitória, que, repito, não foi uma vitória do PT, mas de todo o povo brasileiro, um povo defendido radicalmente por nosso partido e nossos militantes.
Senhor presidente, nobres deputadas e deputados, a simbologia transformadora do operário pau-de-arara que virou presidente da República agora se transfere para quem vai substituí-lo: uma mulher de lutas, que não se acovardou com a truculência da ditadura e nem recuou ante os tabus de gênero, optando por lutar pelos seus sonhos e ideais na crença de ver seu país um dia livre, soberano e justo.
É esta a mulher que terá a missão de dar continuidade ao que o operário pau-de-arara iniciou.
Todos os números e indicadores locais e mundiais põem o Brasil de Lula como parâmetro de governo sério, competente e respeitado, exemplo de mudanças profundas em favor de uma nova ordem social e econômica. Mas ainda há muito por fazer. O atual presidente e sua sucessora sabem disso, sabem que os brasileiros e brasileiras, à medida que o País avança, tornam-se mais exigentes.
Com a democracia e as liberdades consolidadas, o combate à pobreza é o objetivo maior, porque nele se assentam as demais diretrizes e prioridades do governo: educação, saúde, emprego, moradia, segurança, infraestrutura, por exemplo.
Quando Lula assumiu, em 2003, herdou um Risco Brasil em 2.436 pontos. Oito anos depois, a confiança dos investidores na economia brasileira é quase absoluta: o Risco Brasil caiu para cerca de 174 pontos. De janeiro a outubro deste ano, mais um recorde que vem sendo registrado desde 2003 na geração de empregos: a abertura de vagas formais superou as demissões em 2,4 milhões de carteiras assinadas.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico prevê que o Produto Interno Bruto Brasileiro fechará o ano com crescimento de 7,5%, embora a economia viva um momento de desaceleração.
Ora, todos esses números espelham um Brasil que caminha para a frente e um governo bem sucedido, mas não sepultam a realidade reconhecida pelo próprio líder desses avanços, o presidente Lula.
Em seu programa de rádio no dia 22 deste mês ele disse que o Brasil ainda está longe de acabar com as desigualdades, incluindo nestas as raciais. É longe, mas estamos avançando, caminhamos para chegar lá e um dia fazer dessa palavra, se Deus quiser, um lugar que não existe, como ensina o escritor Richard Bach. Muito obrigado!