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Eficácia da CoronaVac: veja 10 perguntas e respostas

Por Lara Pinheiro/Portal G1

O Instituto Butantan anunciou, nesta semana, a eficácia geral da CoronaVac, a vacina contra Covid-19 desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac e que será fabricada no Brasil pelo instituto.

A eficácia geral da vacina ficou em 50,38% – acima do mínimo de 50% recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Mas o que significa isso? Nesta reportagem, você verá as respostas para as seguintes perguntas:

  1. O que é a eficácia de uma vacina?
  2. Como os cientistas descobriram a eficácia da CoronaVac?
  3. Se a vacina tem 50% de eficácia, isso significa que eu tenho 50% de chance de pegar Covid?
  4. Eu posso tomar a vacina e mesmo assim ficar doente?
  5. A eficácia de 50% é considerada boa?
  6. Se a eficácia foi de 50,38%, o que significam os 78% e os 100% que o Butantan apresentou antes?
  7. Eu devo tomar a vacina mesmo que a eficácia dela não seja de 100%? Não é melhor esperar outras?
  8. A vacina é segura?
  9. Eu vou precisar usar máscara mesmo depois da vacina? Ela vai impedir a transmissão da Covid?
  10. Por que é importante que muitas pessoas tomem a vacina?

1. O que é a eficácia de uma vacina?

A eficácia de uma vacina é determinada quando ela ainda está em estudos (normalmente, de fase 3). Dizer se uma vacina é ou não eficaz significa dizer se ela funciona ou não em condições ideais.

Ela é medida por uma porcentagem que indica a redução de casos num grupo vacinado em comparação a um grupo não vacinado. Ou seja: a ideia é quantificar a diferença numérica que a vacina vai fazer para proteger uma população.

Se uma vacina tem 90% de eficácia, isso significa que, nos testes, ela conseguiu reduzir em 90% a quantidade de casos que ocorreriam se as pessoas não tivessem sido vacinadas.

2. Como os cientistas descobriram a eficácia da CoronaVac?

“No caso da vacina [CoronaVac], a eficácia está sendo determinada pela proporção de pessoas que se contaminam entre os vacinados e os não vacinados”, explica Lucia Pellanda, professora de epidemiologia e reitora da Universidade Federal das Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).

A conta se torna um pouco mais complicada, entretanto, porque o fator tempo também é considerado. Como nem todas as pessoas passaram o mesmo tempo no estudo, o risco que elas tinham de pegar ou não a Covid também era diferente, esclarece Pellanda.

Para determinar a eficácia da vacina, os cientistas reúnem voluntários e os dividem, geralmente, em dois grupos. Um dos grupos recebe um placebo (que pode ser uma substância sem efeito ou uma outra vacina, como a da meningite); esse grupo é chamado de controle. O outro recebe a vacina.

No caso da CoronaVac, os grupos testados tinham cerca de 4,6 mil pessoas cada. Todas eram profissionais de saúde, que têm mais exposição ao vírus. Isso é importante porque, para determinar a eficácia de uma vacina, é preciso aplicá-la nos voluntários e ver se ela foi capaz de protegê-los do vírus.

Só que os cientistas não podem, via de regra, infectar as pessoas com o vírus. Por isso, eles precisam de pessoas que sejam expostas a ele no dia a dia. Neste caso, os profissionais de saúde têm mais exposição do que a população geral, porque cuidam dos doentes.

Depois de aplicar a vacina e o placebo naquela quantidade de voluntários, os cientistas esperam até que haja um número suficiente de pessoas infectadas para calcular a eficácia.

Com os dados que obtiveram dos testes da CoronaVac, os cientistas chegaram à eficácia de 50,38%. Isso significa que a vacina conseguiu fazer com que cerca de metade das pessoas que ficariam doentes se não fossem vacinadas não ficassem.

3. Se a vacina tem 50% de eficácia, isso significa que eu tenho 50% de chance de pegar Covid?

Não. Significa o que seu risco foi reduzido em 50%. Isso porque o risco de pegar Covid é diferente para cada pessoa e não é de 100% para ninguém.

“Para poucas coisas o risco é 100%. Teoricamente, em algum dia [o risco de pegar Covid] pode chegar a 100%, mas, neste momento, não são 100% das pessoas que se infectaram. Não tem 200 milhões de infectados [no Brasil]. Tem gente que não chegou perto do vírus ainda. Então, o risco não é 100%”, explica Lucia Pellanda.

“O risco individual vai cair pela metade. Só que a metade de quanto vai depender de quantos casos tem na região. Se o seu risco for de 10%, com a vacina, vai ficar 5%”, acrescenta a professora.

Isso significa que uma pessoa não vacinada no Brasil vai ter mais risco de se contaminar do que uma pessoa não vacinada na Nova Zelândia, por exemplo (que adotou boas medidas de controle da pandemia).

“A redução de risco se calcula por uma relação de incidência, que é o número de casos em uma determinada população de [pessoas] suscetíveis. Esse risco precisa ser entendido do ponto de vista populacional”, explica Alexandre Zavascki, professor de infectologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

“Uma população vacinada vai ter 50% a menos de casos que uma não vacinada, dadas as mesmas condições de exposição”, lembra.

Também é errada a noção de que, com 50% de eficácia, só 50% das pessoas criam anticorpos para o coronavírus (entenda).

4. Eu posso tomar a vacina e mesmo assim ficar doente?

Pode. Mas a chance é menor do que seria se você não tomasse. (Veja a pergunta 3). Além disso, mesmo que fique doente, a tendência é que o caso de Covid seja menos grave do que seria se você não tivesse sido vacinado.

“Há uma tendência da vacina de diminuir a intensidade clínica da doença”, explicou o diretor de pesquisa clínica do Butantan, Ricardo Palacios, na apresentação dos dados da CoronaVac.

“O risco é 50% menor de pegar a doença e 78% menor de ter uma doença que vá precisar de algum atendimento médico”, explica Alexandre Zavascki, da UFRGS. (Veja detalhes na pergunta 6).

5. A eficácia de 50% é considerada boa?

De forma geral, sim, na opinião dos especialistas ouvidos pelo G1. Para eles, a CoronaVac tem o potencial de frear a pandemia no país.

“O principal é: é melhor do que 0%. É a principal vantagem. Tenho certeza que todo mundo preferia 100% de eficácia, mas não vacinar garante 0% de eficácia”, pontua Rodrigo Silva Guerra, professor e integrante do observatório da Covid na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), também no Rio Grande do Sul.

No dia do anúncio dos resultados, cientistas frisaram que mais importante do que a eficácia dela é a capacidade do Brasil de fazer uma boa campanha de vacinação.

“Uma vacina só é tão boa quanto a sua cobertura vacinal. A efetividade dessa vacina no mundo real vai depender da vacinação”, disse a microbiologista Natália Pasternak, pesquisadora da USP e presidente do Instituto Questão de Ciência.

“É a nossa vacina. Ela vai nos ajudar, vai salvar vidas e, junto de outras vacinas, campanhas de vacinação, medidas de enfrentamento e adesão da sociedade, iniciaremos nossa saída da pandemia”, avaliou a pesquisadora Mellanie Fontes-Dutra, idealizadora da Rede Análise Covid-19 e pós-doutoranda em bioquímica na UFRGS.

Além disso, também ressaltaram que os resultados contra casos graves eram mais relevantes do que a eficácia geral dela. Segundo os resultados apresentados pelo Butantan, a vacina preveniu 78% dos casos de Covid que necessitariam de algum atendimento médico.

“Eu tenho 22% do risco que eu tinha antes”, frisa Rodrigo Guerra, da UFSM.

“Na prática, me parece que essa eficácia global de 50,4% é menos relevante do que a eficácia altíssima que tem pra casos graves e mortes. Porque, na prática, o que a gente quer é evitar internação e óbito”, disse o epidemiologista Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), no Rio Grande do Sul.

6. Se a eficácia foi de 50,38%, o que significam os 78% e os 100% que o Butantan apresentou antes?

A eficácia de 50,38% foi contra todos os casos de Covid, incluindo aqueles muito classificados como “muito leves” (na gradação da Organização Mundial de Saúde, um caso “muito leve” é aquele que não precisa de atendimento médico).

A eficácia de 78% foi contra os casos que precisaram de algum tipo de atendimento médico (casos “leves”, segundo a gradação da OMS).

Já contra os casos considerados moderados ou graves, a eficácia da vacina foi de 100%. Segundo o governo, houve 7 casos graves no grupo que não foi vacinado e nenhum no que foi. Esses números, entretanto, não têm significância estatística, explicou o diretor de pesquisa do instituto, Ricardo Palacios.

Isso significa dizer que esses resultados, por enquanto, podem ter ocorrido por acaso – sem ter, necessariamente, a ver ou não com a vacina. Quando os estudos terminarem, pode ser que haja novos números com significância estatística.

7. Eu devo tomar a vacina mesmo que a eficácia dela não seja de 100%? Não é melhor esperar outras?

Sim, você deve tomar a vacina mesmo que a eficácia dela não seja de 100%, disseram os especialistas consultados pelo G1:

  • “Primeiro: vem de graça pelo SUS – por que esperar se pode não esperar? Nada impede. O sistema imunológico vai ser ativado por qualquer vacina”, lembra Rodrigo Guerra, da UFSM.
  • “Em geral, é preferível a vacina que está disponível. É melhor vacinar com uma menos eficaz do que esperar mais tempo por uma mais eficaz. Mas é uma situação bem complexa”, pondera Lucia Pellanda, da UFCSPA.
  • “Nenhuma vacina tem eficácia de 100%. Tem eficácia de 90%, nenhuma é 100%. Tem que tomar a vacina que ofereça alguma proteção e que esteja disponível – não adianta sonhar com a vacina de 95% e ela não chegar. O risco a que eu vou ficar exposto em todo esse período é maior do que de já tomar a vacina com eficácia menor, mas com a qual eu garanto uma proteção. Para as formas um pouco mais graves, até foi uma proteção maior. Quem sabe ela proteja mais ainda para formas graves”, pontua Alexandre Zavascki, da UFRGS.
  • “As duas vacinas que estarão provavelmente disponíveis na semana que vem no Brasil [a CoronaVac e a de Oxford] são seguras e este é um fator essencial. Sendo segura, quanto mais pessoas tomarem a vacina, mas diminuímos o risco individual e coletivo e mais rápido chegaremos na imunidade coletiva”, explica Otavio Ranzani, médico intensivista e epidemiologista da USP.

8. A vacina é segura?

Sim. Em estudos de fase 1 e 2, que medem de forma inicial a segurança e a eficácia de uma vacina, a CoronaVac foi apontada como segura. Os resultados dos estudos foram publicados em novembro na revista científica “The Lancet”, uma das mais importantes do mundo.

Nos estudos de fase 3, que são aqueles cujos resultados preliminares foram divulgados esta semana pelo Butantan, a vacina também se mostrou segura. As reações mais comuns nos participantes foram dor no local da vacinação, dor de cabeça, fadiga e dores musculares.

Não houve efeitos colaterais graves. Houve reações alérgicas em 0,3% dos participantes, mas sem anafilaxia (reação alérgica grave).

A CoronaVac usa a tecnologia de vírus inativado. Esse tipo de vacina usa o vírus inteiro para induzir a resposta do sistema de defesa do corpo (mas ele não causa doença, porque, como o nome diz, está inativado, ou seja, “morto”).

Nós já usamos várias vacinas de vírus inativado contra outras doenças – como a da hepatite A, da gripe e da raiva. Também existe uma vacina contra a pólio que é injetável e feita com o vírus inativado.

“É o vírus inativado com adjuvante, que potencializa a resposta imunológica. É uma vacina cuja tecnologia é muito antiga, se conhece bem os efeitos colaterais que são muito poucos. Eu acredito que vai ser uma ferramenta muito importante nessa luta contra a Covid”, avalia o virologista Eduardo Flores, da UFSM.

9. Eu vou precisar usar máscara mesmo depois da vacina? Ela vai impedir a transmissão da Covid?

Sim, nós ainda precisaremos usar máscaras por algum tempo.

O principal motivo para isso é que o objetivo da vacina é impedir que as pessoas desenvolvam a doença, e não necessariamente que não se infectem com o coronavírus. Isso significa dizer que mesmo as pessoas vacinadas podem continuar a transmitir o vírus.

Os pesquisadores do Butantan dizem que mais estudos serão necessários para determinar se a CoronaVac é capaz de impedir a transmissão da Covid, além dos casos graves.

Como, num primeiro momento, nem todos estarão vacinados, será necessário continuar a usar máscaras e manter a distância uns dos outros. Isso evita a transmissão do vírus – e protege as pessoas que não podem ser vacinadas, como grávidas e algumas pessoas com doenças do sistema imune, por exemplo.

“As outras coisas que a gente faz para diminuir o risco vão continuar ajudando – manter a distância, usar máscara”, diz Lucia Pellanda, da UFCSPA.

10. Por que é importante que muitas pessoas tomem a vacina?

Porque só assim é possível alcançar a chamada imunidade de rebanho e interromper a circulação do vírus. Quando muitas pessoas estão vacinadas, o vírus vai diminuindo a capacidade de se espalhar. Assim, as pessoas que não podem se vacinar também ficam protegidas.

“Quando consegue interromper a circulação do vírus, isso protege quem não pode se vacinar – porque ele não está circulando. Sempre depende da taxa de transmissão do vírus”, explica Lucia Pellanda.

Nesta semana, a taxa de transmissão do vírus, o chamado R0, ficou em 1,21. Isso significa dizer que cada 100 pessoas infectadas transmitem o vírus para outras 121 – e a pandemia se espalha. Para frear o contágio, o R0 precisa ficar abaixo de 1.

“A vacina é a melhor intervenção que podemos fazer para nos proteger do vírus. Ela vai fazer com que tenhamos defesas contra o vírus e, quanto mais pessoas tomarem, mais defesas teremos na população, criando assim barreiras para o vírus se disseminar”, explica Otavio Ranzani, médico intensivista e epidemiologista da USP.

“Com a vacina, podemos conter o vírus pois teremos menos pessoas suscetíveis na população. Mas para isso dar certo, ou seja, termos uma proteção coletiva, precisamos que muitas pessoas tomem a vacina”, diz.

“A vacina é um pacto coletivo”, lembra Lucia Pellanda. “Enquanto não estiver todo mundo vacinado, o vírus continua se espalhando. Ele pode sofrer uma mutação, alguma coisa que pode fazer com que a vacina funcione menos”.

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