Vander Loubet – Deputado Federal (PT/MS)
Ao comemorarmos 100 anos do Dia Internacional da Mulher, gostaria de partilhar com as companheiras e companheiros uma sensação que senti recentemente ao sair do cinema, depois de ver o filme “Lula, o Filho do Brasil”, no começo deste ano. O filme poderia se chamar, tranquilamente, “Dona Lindu, a Mãe do Brasil”.
Parte da crítica cinematográfica brasileira afirma que o filme é demagógico, politiqueiro ou que busca criar e desenvolver uma espécie de mito em torno de nosso presidente. Ressalto que, para mim, o filme ficou na medida apropriada, contando a história de um nordestino retirante (representado por milhões deles) que vai em busca de oportunidades em São Paulo. Passa por diversas dificuldades, superando algumas, em outras tendo que suportar as dores das perdas, mas consegue ir adiante com pequenas conquistas, de um curso no Senai a líder sindical e, posteriormente, a presidente da República, quando o filme termina.
O filme, portanto, retrata naquele que hoje é presidente do País, os obstáculos e superações por quais passam milhões de brasileiros diariamente. Como afirma a atriz Glória Pires, que interpreta com brilhantismo a Dona Lindu: “Por acaso, essa história, que é como a de milhares de brasileiros, se passou com um homem que é nosso presidente. É muito impressionante”.
Dito isso, gostaria de voltar à Dona Lindu (Eurídece Ferreira de Mello) e por ela homenagear a todas as mulheres do nosso estado e do País, pois trata-se da história de uma mulher que vai criar oito filhos, passando por humilhações e preconceitos dos quais bilhões de mulheres são vítimas em todo o planeta. Ela sai do sertão nordestino e vai para São Paulo lutar pela sobrevivência e buscar melhores dias para os seus, tendo com lema: “Nesta família ninguém vai ser ladrão ou prostituta”.
O filme é rico em passagens que mostram o papel decisivo e a determinação de uma mulher para manter a sobrevivência de seus filhos, objetivando dar-lhes dignidade e uma perspectiva de vida, numa história real que simboliza as lutas das mulheres de todo mundo e do Brasil contra o preconceito e as desigualdades que tanto permeiam a nossa sociedade.
Eis algumas ilustrações de passagens do filme que mostram a força de Dona Lindu, que retratam a fibra, a força, o vigor e a capacidade de luta de todas as nossas mulheres:
- Abandono pelo marido em pleno sertão nordestino (1952).
- Viagem num caminhão de Pernambuco para Santos (retirantes).
- Violência do marido contra os filhos e a ardorosa coragem da mãe para defendê-los.
- Atitude de Lula de defender a mãe quando da tentativa do pai em agredi-la.
- Tentativa de adoção de Lula por parte da professora, que diz: “Eu só quero fazer dele alguém na vida”. E a resposta de Dona Lindu: “Ôcha, mas ele já não é alguém, Luiz meu filho?”
- O pai de Lula, Aristides, diz: “Filho meu não tem que estudar, tem que trabalhar”.
- Por excesso de violência contra a família e alcoolismo, Dona Lindu abandona o marido, dizendo ao filho Lula: “Vai estudar, vai ter uma profissão”.
- Dona Lindu, dirigindo-se ao Senai: “A prova de torneiro mecânico é quando?”
- Formatura de Lula no Senai – lá estava a mãe, emocionada, pois o filho tinha um diploma, uma profissão.
- Acidente com torno mecânico e perda do dedo de Lula, que vai em busca do amparo da mãe.
- Perda do filho e da primeira mulher Lourdes, na gravidez. E, mais uma vez, a mãe está ali para ampará-lo e fortalecê-lo.
- Entrada no sindicato dos metalúrgicos, com apoio da mãe.
- A mãe, no leito de morte: “Eu tenho tanto orgulho de tu, meu filho”.
Todas essas passagens estão no filme “Lula o filho do Brasil”, mas, sem dúvida, são enredos da vida de milhões de brasileiros e brasileiras e mostram a coragem, a força e a obstinação intuitiva das mulheres. Glória Pires, ao referir-se à personagem que interpretava, contou: “O que me tocou foi o estado de emoção das pessoas quando começavam a falar dela. Um primo dela falou: ‘Lindu era uma coisa linda. Era uma alegria’. Embora fosse extremamente sofrida, tivesse perdido três filhos e três irmãos, apesar das dificuldades, ela gostava de contar piada, cantava. Era positiva, uma mulher muito viva”.
Talvez, não por outra razão, o presidente Lula, ao escolher a sua sucessora, tenha escolhido Dilma Roussef, mulher que representa a história de luta de milhões de mulheres desse país e que pode vir a ser a primeira presidenta desta Nação.
Em Mato Grosso do Sul, essas mulheres – Dona Assunção, Marta Guarani, Oliva Enciso, Dona Aparecida Loubet, Dorcelina Folador e Dona Gilda, entre tantas – simbolizam para mim as lutas e a beleza de todas as mulheres na busca da superação das desigualdades e dos preconceitos que ainda permeiam as nossas sociedades. E elas, essas mulheres doces e guerreiras, com seus exemplos, nos dão a certeza de que com a união de todas as forças da sociedade será possível superar os preconceitos e fazer um mundo mais humano, justo e em paz.