Vander Loubet*
Há alguns dias, na semana que antecedeu as comemorações cristãs de Corpus Christi, o prefeito de Campo Grande, Nelson Trad Filho, surpreendeu a cidade que governa há quase sete anos, solicitando uma carta de demissão de todos os seus 11 secretários e presidentes de fundações. Na ocasião, em entrevista, Nelsinho afirmou: “Já a algum tempo eu estou insatisfeito com o desempenho da equipe, estou achando que está um relaxamento muito grande, um desleixo muito grande, uma falta de comprometimento… No nosso entendimento a gota d’água foi (sic) algumas questões que aconteceram também na esfera política, partidos que usufruem da administração, sem comunicar nada para a gente…”.
Passaram-se alguns dias, reuniões, conversas e nenhum secretário demitiu-se ou foi demitido. Logo, pelo visto, continuam na administração municipal de Campo Grande.
Trago-lhes essas questões porque, já há algum tempo, tenho apontado que Campo Grande vem sendo administrada de forma inapropriada para uma cidade desse porte e importância. Muitos dos problemas que ainda persistem, tais como os da saúde, segurança pública, impostos e trânsito poderiam ser resolvidos se a forma de gestão da Capital fosse mais moderna e descentralizada. A fala literal de Nelsinho Trad é o endosso cabal do que venho dizendo em meus artigos, juntamente com outros estudiosos e cidadãos, como o sociólogo Paulo Cabral e o arquiteto Ângelo Arruda.
A administração do PMDB trata a municipalidade de Campo Grande como se fosse sua, como se os aliados políticos e ocupantes dos cargos públicos, ao invés de servirem à sociedade, fizessem exatamente o contrário, servindo-se da administração por indicação do prefeito, sem poder sugerir ou criticar essa administração, pois dela fazem parte.
A rigor, duas frases do prefeito consistem em pérolas político-administrativas que apontam para uma forma ultrapassada, quase coronelística, de se fazer política: “… aliados que esquecem que estão pendurados na administração, com cargos, com direção de secretarias, com direção de fundações…”; “… o que não pode é servir a dois senhores, é você ter uma crítica eleitoreira para a população e de outro lado ficar se servindo da administração…”.
Se o prefeito se cerca de pessoas que, ao invés de servir a municipalidade, dela se servem e que, dito por ele mesmo, estão penduradas, relaxadas e desleixadas, é evidente que os destinos da cidade não estão em boas mãos. E os problemas recorrentes, por todos apontados, não serão solucionados com essa forma de administrar.
Na última quarta-feira (29/06), veículos de comunicação de Mato Grosso do Sul divulgaram que a crise está encerrada, pois tudo está como antes: nenhum secretário demitido e os partidos aliados bem comportados. Para mim, não. O que vejo nesses fatos são o contrário. Algo deve estar muito errado, pois o prefeito continua cercando-se daqueles que ele chamou de pendurados, relaxados e desleixados, daqueles que se servem da administração municipal.
Campo Grande, a cidade que tanto admiramos e nos orgulhamos, cresce e se desenvolve a partir do trabalho da sua gente. No plano de investimentos, a Capital conta com um grande volume de recursos federais, herança do governo do ex-presidente Lula mantida pela presidenta Dilma. O episódio envolvendo o prefeito e seu secretariado mostra a urgência de se rever a forma como a cidade é administrada. Há que se mudar os rumos da cidade. De outra forma, deixaremos passar a oportunidade efetiva de sermos uma cidade moderna e à altura das grandes metrópoles do Brasil.
*Deputado Federal (PT-MS)