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As disputas eleitorais de 2024 antecipam o futuro do PT e do Brasil em 2026

Vander Loubet*

No PT (e nos setores sociais próximos) muito tem se discutido (e divergido) acerca da definição (ou não) de candidatura própria do partido em Campo Grande, em detrimento de uma política de aliança mais ampla (encabeçada por quadro político diverso do PT).

Todavia, muito antes de se fechar questão sobre uma candidatura própria, há que se verificar o caráter das eleições municipais de 2024 já dado pela Direção Nacional do PT (enquanto projeto nacional) e pelo presidente Lula.

Aqui reside a discordância ao encaminhamento hermético de que a nossa combativa deputada federal Camila Jara já é (e será) a nossa candidata, sem qualquer possibilidade de debate e ampliação com outras forças políticas.

Para o projeto nacional do PT a eleição municipal de 2024 é uma ponte essencial entre as eleições gerais de 2022 (presidente, deputados, senadores e governadores) e a de 2026. Qualquer análise eleitoral (feita com honestidade intelectual) deve reconhecer que, em 2022, a candidatura do PT (e de seus aliados de 1° e 2º turno) venceram Bolsonaro por uma margem muito apertada de votos, graças à considerável adesão de parte de setores de centro-direita mais comprometidos com a democracia do que com uma pauta irracional de costumes.

Pela primeira vez, o PT derrotou um adversário sem que esse desmobilizasse seu discurso e sua base política e social até a próxima eleição (os eventos de 8 de janeiro de 2023 são exemplos claros).

É preciso rememorar que a presidente Dilma, em 2014, se reelegeu vencendo Aécio por 3,3 pontos percentuais de votos e acabou não tendo suporte parlamentar para sequer terminar seu mandato.
A margem apertada da vitória deu ao adversário (dentre eles, Bolsonaro), desde o início de seu segundo mandato, a esperança e a possibilidade concreta de cassá-la (como ocorreu em 2016).

Lula, em 2022, venceu Bolsonaro por uma diferença de votos ainda menor, 1,9% pontos, e uma base parlamentar vinculada à pauta Bolsonarista muito grande, tanto na Câmara quanto no Senado, afora o forte e permanente engajamento de sua base social nas redes sociais.

A vitória de Lula em 2022 foi a com menor margem entre um candidato e outro na história das eleições presidenciais brasileiras, o que nos impõe o dever político de reconhecer que ‘o adversário ainda brada raivoso como um leão a nos espreitar’, mesmo após sua derrota eleitoral.

Ainda que isso não bastasse, os principais estados do Centro-Sul do país (incluindo o Distrito Federal) tiveram governadores eleitos (e alguns reeleitos) comprometidos e apoiados pelo bolsonarismo (uns mais, outros menos).

Tais resultados impuseram ao governo Lula, desde o início, tanto no Parlamento quanto na sociedade, a tarefa de atrair diversos setores que não marcharam com o PT nas eleições presidenciais, sob pena de inviabilizar no Congresso Nacional a sua pauta econômica e social (que, ao final, será a métrica de seu governo em 2026), sem falar em um possível impedimento, como ocorreu com Dilma.

A partir dessa realidade passada (para não dizer ainda presente) é que o governo Lula conduz o dia a dia do seu governo e se organiza para enfrentar o vivo e pulsante bolsonarismo em 2026. Nesse sentido, a eleição municipal de 2024 faz parte dessa organização e cumprirá papel central na estratégia de reeleição do presidente Lula.

Não faz nenhum sentido que setores do PT, à luz dos resultados eleitorais de 2022, acreditem que a eleição de 2024 possa ser resumida em apenas uma eleição do PT contra todos e a qualquer custo (incluindo a governabilidade/ingovernabilidade do presidente Lula).

A percepção e movimentação do presidente Lula quanto ao caráter da eleição municipal de 2024 está mais do que expressa na forma como está conduzindo a disputa na cidade de São Paulo, onde, pela primeira vez, o partido não terá candidato próprio, já que a direção política é uma aliança com o deputado federal do PSOL Guilherme Boulos como cabeça de chapa.

O retorno de Marta Suplicy e sua indicação à vice (pelo PT) de Boulos é um sinal concreto e inteligente em direção aos setores populares que abandonaram o PT no pós-Dilma, sendo certo que mesmo a indicação da vice (já refiliada ao PT) é um sinal de atração para setores que ainda estão à margem do PT paulistano.

Para que não haja dúvida da coragem e ousadia da estratégia do presidente Lula nas eleições municipais de 2024 em São Paulo, vejamos: no segundo turno da cidade, em 2022, Lula venceu Bolsonaro por uma diferença maior que a nacional (53,54% x 46,46%). Ainda assim, Lula aposta em um nome não oriundo do PT.

Em contraposição à estratégia supracitada, o fechamento de questão acerca de candidatura própria em Campo Grande precisa conviver com a seguinte realidade eleitoral do segundo turno presidencial de 2022: em 2022, na capital sul-mato-grossense, Bolsonaro venceu Lula por 62,65% a 37,35%.

No estado, a vitória de Bolsonaro foi por uma proporção menor que o resultado da Capital (59,49% versus 41,51%), o que demonstra que o bolsonarismo em Campo Grande está mais enraizado que nos demais colégios eleitorais de Mato Grosso do Sul.

Logo, incompreensível que setores fechados com a candidatura própria se acham à vontade para acreditarem que debater uma política de aliança mais ampla é incabível e descabida.

Oras, se mesmo em São Paulo, onde Lula derrotou Bolsonaro por uma proporção maior que a proporção nacional, o PT optou por debater e construir uma candidatura diversa de seus quadros, não há lógica política alguma do PT em Campo Grande ao interditar o debate de construção de uma aliança mais ampla e ao centro, visando, ao final, o fortalecimento do projeto nacional do PT e da reeleição do presidente Lula em 2026.

O debate instaurado por setores divergentes do partido, acerca da possibilidade de uma aliança de centro capitaneada por quadro político diverso do PT, se constitui em um entendimento mais consentâneo com a tática eleitoral do presidente Lula e do PT nacional nas eleições municipais de 2024.

O entendimento supracitado seria diverso se tivéssemos (para as eleições municipais de Campo Grande de 2024) um quadro político próprio já consolidado e disputando de forma concreta uma eventual presença no segundo turno (como é a situação do deputado Boulos em São Paulo). Todavia, essa não é a realidade de Campo Grande e desde que a tal candidatura própria foi apresentada, nada se alterou nos números do quadro político de nossa capital.

O PT, nacional e local, vivem um estágio de sua história que não lhe cabe mais lançar uma candidatura própria apenas para demarcar posição isolada ou consolidar um quadro parlamentar para uma nova disputa proporcional.

O caráter nacional dado ao pleito municipal de 2024 pelo PT nacional e pelo presidente Lula não admite tamanho estreitamento político.

Enfim, o desafio do PT em 2026, frente ao seu mais terrível adversário político, é construir uma base política muito mais ampla que o tradicional espectro de esquerda, já que se vacilarmos, não será o centro o vencedor, mas a direita mais raivosa e conservadora, e as eleições municipais de 2024 construirão a base para tal ampliação.

O presidente Lula e o PT sabem que não basta a reeleição em 2026, é preciso diminuir o tamanho do campo bolsonarista no Senado e na Câmara Federal e isso depende muito do número de prefeitos e vereadores eleitos em um campo de aliança e de diálogo com o PT.

Serão os novos gestores municipais, a partir de 2025, que abrirão ou estreitarão as portas para a reeleição do presidente Lula em 2026.

Por todos os fundamentos acima nominados é que vamos continuar instando e externando ao PT e à sociedade sobre a inexorável necessidade de se organizar uma frente mais ampla que o PT para enfrentar minimamente o bolsonarismo incrustrado expressivamente no eleitorado da Capital.

Estamos mais do que convictos de que o único, digno e inarredável projeto político nacional para o PT é o projeto de consolidação do governo Lula e da sua reeleição em 2026, portanto, vamos insistir de que cabe ao PT de Campo Grande, em 2024, debater a possibilidade concreta de construir uma aliança política mais ampla e capitaneada por quadro diverso do PT.

*Deputado federal (PT-MS) e coordenador da bancada de MS no Congresso Nacional

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