Vander Loubet*
As eleições de 2014, nas quais a presidente Dilma foi reconduzida à Presidência da República, foi uma eleição difícil em relação às anteriores, onde o nosso governo de conquistas, em que pese os grandes avanços alcançados nos últimos anos, por pouco não foi interrompido. E fomos vitoriosos tanto com Dilma quanto com a eleição da maior bancada na Câmara Federal, com 69 deputados. Mas os eleitores emitiram sinais visíveis de insatisfação, que por si só exigiriam reflexões e mudanças da nossa parte nas ações governamentais e políticas do governo e do PT.
Contudo, se fomos vitoriosos em outubro passado, ontem sofremos uma derrota vergonhosa na eleição da Mesa Diretora da Câmara, por inapetência e desarticulação na condução política do governo, que nos levou a ficar de fora da Direção da Casa, mesmo tendo a maior bancada junto com o PMDB.
Uma parte da bancada do PT (da qual faço parte) sempre apostou na construção de uma chapa única entre PT e PMDB, pois essa aliança tinha sido exitosa nos últimos anos, tanto nas ações parlamentares quanto nas relações com o Executivo, apesar dos conflitos de visões e interesses, que são inerentes à ação política. A estratégia de enfrentamento com o PMDB, partido aliado, que participa de nosso governo com seis ministérios, demonstrou-se um desastre para o governo e para nosso partido.
Se não bastassem as ponderações de muitos líderes e experientes parlamentares da base e do nosso partido sobre a importância da construção de uma chapa de consenso, também entrou em cena o ex-presidente Lula, que até a véspera das eleições tentou evitar o enfrentamento entre PT e PMDB. Entretanto, o processo já tinha rumos praticamente irreversíveis e muitas pontes políticas foram destruídas, impossibilitando, assim, uma solução negociada.
O governo da presidente Dilma teve a coragem de fazer as necessárias mudanças na condução da economia brasileira no sentido de preservar e ampliar os grandes avanços que tivemos no país nos últimos anos. É importante apoiarmos e defendermos essa ação, por mais duras que pareçam. Mas não podemos concordar com a condução política e com a falta de diálogo com os parlamentares da base aliada. Essa forma de fazer a articulação política demonstrou-se inepta e deve ser revista.
Por mais curioso que possa parecer, nossa derrota só não foi maior porque o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) venceu no primeiro turno. Caso tivéssemos um segundo turno, Cunha receberia o apoio maciço da oposição, notadamente do PSDB, o que tornaria a derrota da nossa chapa ainda mais vergonhosa e, naturalmente, colocaria o nosso aliado PMDB num flerte muito mais efetivo com a oposição.
Entendo, finalmente, que o PT e o governo necessitam de uma análise profunda do ocorrido e de uma readequação na forma de conduzirmos as ações políticas, de tal sorte a não ficarmos isolados e passíveis de sofrermos derrotas similares no futuro.
*Deputado federal (PT) e coordenador da bancada de MS no Congresso Nacional